O abraço envolve,
faz-se invólucro,
veste sob medida:
carne sobre os ossos
pálpebras sobre as órbitas.

Habita o abraço
desejo dolorosamente 
sincero:
tatear a temperatura
que se equilibra
entre a febre
e a morte.
Disse para traduzir-se: penumbra.
Tudo que vira o habita.
O garoto nasceu nos trópicos,
a família (quase toda)
trocou neve e ciprestes,
fuga das tropas do führer.

Disse para traduzir-se: penumbra.
O mundo é rumor e texturas.
Olhos devoram tudo.
É preciso, feito animal, migrar
em busca de alimento.
Então pouse a pele, compreenda:
tudo é tátil. Tudo é linguagem,
ouça.

Entoo Dante, o primeiro terceto 
do Inferno:
"No meio do caminho desta vida
desencontrei-me numa selva escura
que do rumo direito vi perdida"

Avô, a poesia traduz
tua cegueira. Teu neto é professor
de literatura. Sinestesia, um exemplo:
Teus olhos silenciaram.
meu delírio pulsa
onde despencam
cadáveres de borboleta

onde poesia 
se celebra
com orgia ritual:
homens e palavras
se fecundam.

fera miraculosa
vomita o caminho
desde que enterrei
nos olhos
o mapa de pasárgada.
Mergulhas
em águas escuras.

Metade oculta
outra flutua
em meus olhos.
Corpo lunar.


Disse que o frio
são agulhas.
Permito ao delírio
raie sol.
Então,
réptil imóvel
te aqueces.

Não há musa 
anadiômena.
Tudo é linguagem.
Há Botticelli e Rimbaud.
Há signos e rumor
nas palavras
& frag
me
nta
das
Visões.

casa
casulo
crânio

papel em branco

quarto escuro

(ventres)


não entre

silêncio absoluto
do not disturb

gestando asas.